terça-feira, 24 de abril de 2012

A Questão Fundiária no Amapá


O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá (Imap) realiza nesta quarta-feira, 25, a primeira reunião do Grupo Estadual de Acompanhamento e Controle Social de Regularização Fundiária e tem como objetivo discutir assuntos referentes ao desenvolvimento fundiário no Estado do Amapá.

Mesmo o Imap tendo o Sistema de Atendimento Ambiental e Fundiário (SAF), que possui duas ferramentas: portal do Imap e Programa de Monitoramento e Controle de Processo (PMCP) e contar com uma leva de novos funcionários públicos, todos tem visão diferente do que vem acontecendo na evolução fundiária e ambiental do Estado. Isso gera morosidade nas avaliações dos processos, pois além de cada setor entender de uma forma, o corpo de técnicos dentro do mesmo setor tem opiniões divergentes.

Para regularizar uma área no Amapá o Plano de Exploração Econômica - PEE - tem de passar por uma verdadeira banca examinadora, equivale a uma defesa de tese de Mestrado. Nessa transição quem perde é o produtor que não obtém evolução nas suas questões fundiárias. Paralelo a isso os bancos, com grande montante de fundos para o agronegócio não podem disponibilizar uma vez que as terras estão sem documentação.

Segundo Rogério Lopes Banin, em conversa com Camilo Capiberibe, sobre questionamentos e informações técnicas, notou que: “Como todo bom político, se mostrou sensibilizado com as dificuldades que estamos tendo para regularizar as áreas e nos tranquilizou dizendo que checaria com o presidente do Imap os fatos”. Questionou ainda: “Não conto muito com esta agilidade via alto escalão, mas sim com novos atrasos na emissão do título das propriedades, acarretando em nova perda de safra, pois as chuvas já começaram e os terrenos ainda estão sem preparo, na verdade estão sem sequer quaisquer cultivo”.

Os problemas fundiários no Amapá têm suas causas não na atualidade e sim, na história de sua ocupação. O Amapá é um dos mais novos Estados da Federação, entretanto seus problemas rurais são antigos e contribuem para um baixo nível de desenvolvimento rural, pois as raízes históricas refletem um modelo de gestão territorial empreendido sem a preocupação com a construção de um espaço social justo resultando em impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais.

Os conflitos rurais no Amapá estão associados, em grande parte, ao desordenamento e ao uso que se fez do território, no espaço e no tempo, relacionados aos problemas históricos, econômicos, culturais e sociais do Brasil. Contudo, dentro de sua especificidade o Amapá demonstra ao longo dos seus anos, sob a exploração e a expropriação, resultados desastrosos onde os problemas da ocupação territorial, e a disputa pela terra se constituíram num grande problema social. O uso e o abuso do território se tornaram instrumentos de poder nas mãos das mineradoras, madeireiras, latifundiários e especuladores rurais. Esse processo alijou famílias que tinham na terra seus últimos recursos de auto sustentação: indígenas, ribeirinhos, seringueiros, coletores de castanhas e agricultores familiares se viram fadados a uma vida de abandono e miséria.

Pouca coisa foi feita no sentido de garantir e respeitar os direitos à posse da terra desses grupos humanos. As questões rurais no Amapá se associam num quadro de tensão social específico de uma área fronteiriça, em que o capital chegou tardiamente, entretanto, conseguindo dominar pontos estratégicos para exploração. A aparente acomodação e ausência de grandes registros conflituosos e de resistências no Amapá não expressam a dimensão do problema de ordenamento territorial, mas serviram de argumento para que muitos atores negassem o antagonismo existente entre as forças de controle territorial e os trabalhadores sem-terra ou com terras insuficientes para sua organização e sustentação.

No Amapá aconteceram choques menos patentes, mas também produtos do embate capital x trabalho e com características específicas, como no campo através da fazenda de gado, das madeireiras, dos projetos fracassados e/ou causadores de prejuízo à comunidade, até o caso de conflito entre os próprios posseiros, ou seja, as causas são necessariamente questões de terras, disputas territoriais, tendo como pano de fundo questões políticas, econômicas e socioambientais. Isso ocorre porque o direito à posse da terra depende de decisões políticas, assim como as condições de trabalho no campo; a garantia de venda da produção; a implantação de assentamentos agrícolas. Contudo, o nível de organização social influencia o grau de resultados políticos a serem obtidos. Por isso está claro que a solução para a problemática rural deverá vir por decisão política de tornar menos injusto o processo de acesso a terra com uma melhor organização espacial e ordenamento territorial mais eficazes, que não serão, apenas, doados pelos governos, mas conquistados pela organização da sociedade.

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