segunda-feira, 2 de abril de 2012

As mangueiras pedem socorro

Quedas sucessivas durante as chuvas provocam aflição em várias ruas de Belém.

As mangueiras de Belém, além de serem um belo cartão – postal, estão se tornando um perigo para a população. Em menos de uma semana - na sexta, 23, e na terça, 27 - duas delas, em ruas próximas (14 de Abril e 9 de Janeiro), desabaram e causaram danos em carros, na rede elétrica e aos nervos de quem mora ou trabalha por perto. O temor de outras quedas, algumas delas anunciadas pelos moradores, colocam em questão a saúde da arborização da cidade, sobretudo das mangueiras centenárias.

A Avenida Magalhães Barata, um dos célebres corredores de mangueiras da cidade está infestada de ervas - de - passarinho (parasita que ataca e mata plantas tropicais) e com sinais evidentes de que está prestes a morrer, por causa das crateras em seu caule, algumas tão profundas que atravessam a árvore.

O Corpo de Bombeiros e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Semma -, parecem não conseguir resolver os problemas que vem acometendo as árvores. Falta responsabilidade com a arborização. Em algumas árvores, não há mais o que fazer, então tem que cortar, tem que retirar.

Se repararmos nas árvores em frente do Museu Emilio Goeldi, iremos ver que são bem cuidadas, não caem. Mais à frente, nas calçadas, a situação já é bem diferente. A falta de manutenção das mangueiras é uma cultura da cidade. Não é uma coisa de agora, ou dessa ou daquela gestão do Estado ou do município.

Faltam dados precisos e atualizados sobre a arborização de Belém. Talvez a Semma possua essa informação, mas o que adianta saber quantas árvores caem por ano sem relacionar esse número com o total de árvores, com a localização no mapa da cidade e as características desse local, o histórico e as condições biológicas e físicas dessas árvores no momento da queda, com a espécie botânica a que pertence? Esses problemas poderiam ser superados com um inventário da arborização de Belém, passo inicial para a gestão e o planejamento do plantio em áreas ainda não arborizadas.

Na ausência de um estudo mais apurado - e aplicado no dia a dia -, vale apenas a experiência de quem trabalha ou se interessa pelo tema. É fácil constatar, por exemplo, que a época em que cai um maior número de árvores é durante os primeiros meses do ano, numa relação direta com o período mais chuvoso; a infiltração de água nas raízes, muitas vezes já fragilizadas ou apodrecidas, e o aumento do peso da copa pela estagnação da água na folhagem mal distribuída, se não forem os motivos, são agravantes que levam à queda das árvores.

As mangueiras - sejam as centenárias ou as de plantio mais recente – são as árvores que mais caem em Belém porque estão concentradas em locais de verticalização e tráfego intensos, onde sofrem a ‘concorrência desleal’ das fundações dos prédios, marquises, mobiliário urbano, cabos de redes aéreas, tubulação de redes subterrâneas, trepidação, poluição e baques dos veículos, além de toda sorte de injúrias provocadas pela população menos consciente da necessidade dessas árvores para minimizar o desconforto da cidade.

Repensemos o plantio de mangueiras em Belém. As mangueiras não se enquadram em vários aspectos considerados ideais para o plantio em calçadas. É inconcebível plantá-la em outras áreas da cidade onde não haja espaço aéreo e subterrâneo para contê-la, só porque Belém é a ‘Cidade das Mangueiras’. A recente transformação em lei, pela Câmara Municipal, do Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém, garante que a situação atual das árvores, ou da falta delas, tenderá a mudar, mesmo que não na velocidade que muitos gostariam.

As mangueiras são tão familiares para os belenenses, que até esquecem sua origem asiática. Chegaram, por volta de 1700, via Nordeste, trazidas pelos portugueses, depois de descobertas as rotas marítimas entre a Europa e a Ásia. A espécie possui excelente produtividade, que abastece o mercado interno e também faz parte dos itens destinados à exportação. Bem adaptadas ao clima brasileiro, foi possível a produção de inúmeras variedades, encontradas em grande diversidade de forma, peso, sabor e cor, que vai do verde ao vermelho intenso. Há, inclusive, mangas sem fiapos, produzidas a partir do cruzamento de variedades indianas e americanas, com vantagens em termos de peso, coloração e resistência às pragas. Tirando as especificidades, as mangueiras foram implantadas na capital paraense principalmente por causa do paisagismo, por questões de arborização. 

O liberal

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